CARTA PARA 2017 * Letter to 2017

CAMPO DE REFUGIADOS – ETIÓPIA

ESPERANÇA

Dois mil e dezessete, vamos combinar!

Não me traga apenas a paz. Infelizmente, ela não cabe mais em todos os tamanhos. Traga-me urgente,  formas de encontrar o respeito, o enternecimento e os sentidos de viver, e daí sim,   será hora de abrir o inventário dos grandes feitos da humanidade.

Não quero mais “muito dinheiro no bolso, nem saúde pra dar e vender”. Ser dona de tanto, não me bastaria neste momento. Estamos quebrantados demais,  sem falar dos que aos punhados foram abatido. Definitivamente,  não nos veríamos com orgulho frente suas lentes aumentadas.

Não quero mais falar sobre as crueldades do racismo,  da homofobia, do machismo, e tudo mais que impede a prática de amar. Cansei. Estou farta de ser apontada e sofrer desapontamentos. Por favor, faça-nos ver o preconceito e a hostilidade na raiz de cada aceno, e assim, recuarmos  antes que esse  mal nos vença todos os dias.

Não quero mais aprender a nadar. Não quero mais aprender a dançar. Não quero mais aprender a tocar tuba. Preciso aprender primeiro, que todas as construções que faço,  refletem em todos os espelhos. Posso experimentar ou aprender  muitas coisas, mas se desviar o olhar do universo, essas descobertas morrerão afogadas em mim. Tão  feias, tão murchas, sem espaço, su-fo-ca-das.

Dois mil e dezessete,   apenas  mais um pedido,

Sei que está muito atarefado, porque devastados com velocidade e pontaria tudo a que era para ser guardado e protegido, mesmo assim, ao olhar para terra novamente,  mire para todos os lados ao mesmo tempo.

Quero felicidade derramada para me molhar inteira, mas não almejo ser florescer sozinha. Permita-me saúde e paz, mas que elas caibam em todos os tamanhos.

Com esperança,

Ana  Teixeira / Dezembro,  2016