Fazemos parte a vida dos surdos, nos comunicamos com eles, e não somos surdos. Mas se nos comunicamos, significa que demos o primeiro passo.
Caminhamos nos desviando das cadeiras de rodas e andadores, e nunca fomos cadeirantes e talvez nunca tenhamos perdido nem mesmo o movimento de um dedinho do pé. Mas mesmo sentindo a coluna dolorida nos curvamos e entregamos a eles o que temos de melhor. Caminhamos mais um passo.
Conversamos com os cegos, e desconfiados, tentamos imaginar o que eles poderiam pensar se vissem a nossa pele manchada, a blusa que passamos as pressas ou os sapatos sem cor e sem brilho. Mas mesmo incertos oferecemos a eles o nosso braço e a nossa dúvida: Será que ele entendeu a minha aula de hoje? Essa dúvida nos jogou mais um passo a frente.
E aqueles retardados? Meu deus! Agora os chamam de deficientes intelectuais. O cara não lê, o cara não escreve, fala com dificuldade e quando sorri quase sempre mostra uma boca feia com uma arcada desdentada e torta. Mas quando nos avistam lá de longe, desengonçados saem de onde estão e te depositam no rosto um beijo todo babado, porque nós sim reconhecemos a importância que eles têm, e o grande desafio e esforço que superaram para estar aqui todos os dias. Se você aceitou o beijo e deixou a baba secar ou se correu até o banheiro e foi lavar não importa, retribuir aquele abraço foi mais um passo.
Quando na Reatech nos deparamos com cadeiras e carrões sofisticados adaptados com tecnologia de ponta, penso na cadeira de rodas dos nossos alunos… Mas eles, os nossos alunos, estavam lá, sentindo-se importantes e iguais. Dando a nós educadores uma aula de vida e sobrevivência.
Ouvir dos alunos cegos que tudo aquilo era lindo me fez pensar sobre tudo que tenho e não vejo, tudo que vejo e não enxergo.
Neste final de semana as nossas aulas foram muito diferentes, porque cidadania e tolerância não se ensina em qualquer lugar… Mas precisamos nos unir e dar mais um passo, como se cada um saísse da ponta de um quadrado em direção ao centro, pois segundo Platão, o quadrado é um figura quase perfeita e é para essa perfeição que caminhamos, e certamente não chegaremos, pois perfeição não pode ser objetivo do ato de ensinar, mas pode ser a pretensão de quem deseja ser um ser uma pessoa melhor.
Republicou isso em Ana de Lourdes.
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Republicou isso em O LADO ESCURO DA LUAe comentado:
tudo que tenho e não vejo, o que vejo e não enxergo… simples assim…direto. vale a pena ler quem pense…
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interesante muchas gracias por compartir
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Comunicar… Tornar algo comum. Alcançar o outro… transpor as barreiras… Só mesmo por meio do coração. Texto excelente!
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Obrigada pelo carinho da visita e das palavras!
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