O PEQUENO BRISTOL * Bristol the little

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A gestação foi tranquila, e o parto trouxe muitas expectativas. Ele nasceu assim como todos costumam dizer, com cara de joelho! Mas aos poucos e com jeitinho foi tomando formas e cores. Uns dizem que é grande demais, outros que é o menor de todos os irmãos.

Nos primeiros dias foi uma grande novidade, eram tantos visitantes que queriam vê-lo… Deu muito trabalho até que todos entendessem, que ainda não era a hora, e seria necessário esperar mais um pouquinho até que ele adquirisse alguma imunidade. Agora ele já recebe visitas, mas elas aprenderam que é preciso carinho e organização, caso contrário, o menino pode adoecer e não é isso que queremos.

Olhos de verdade vertem lágrimas, mas quando as gotas secam ficam apenas vermelhos e cheios de dúvidas. Os olhos dele não,  são azuis, chamam a atenção, provocam, causam euforia. Olhos de verdade refletem beleza. Os olhos dele refletem o que existe ao redor: casas inacabadas, amontoadas e frias, edifícios enfileirados como se todos os moradores tivessem feito um acordo de ter as mesmas caras e problemas. Revelam edifícios altos e bonitos com vistas privilegiadas da simplicidade humana que há em volta. Mas quando ele chora, e porque toda essa realidade caiu dentro dele. Ao contrário dos olhos de verdade, para ele os ciscos não incomodam, ele acomoda a todos, e mesmo a noite continua refletindo  beleza, enquanto os olhos de verdade apenas dormem.

Ele tem tantas pernas! Pernas que educam, pernas que são educadas, pernas em crescimento, outras já crescidas. Pernas que não voltam, pernas que vão e voltam. Pernas bem feitas, outras nem tanto assim.

Ele não tem voz, tem vozes! Grita, canta, sussurra, cala-se. Mas é essa voz que me dá a noção de que ele nasceu para ser grande e forte.

Ele tem braços longos. Um dos braços guarda nas pontas dos dedos pedras preciosas que precisam ser lapidadas e pedras que nos lapidam incansavelmente. O outro braço abraça e abriga movimentos e  arte fazendo de tudo um grande nó.

Tem inteligências múltiplas, que guarda segredos e os mistérios da leitura e ao mesmo tempo crescem velozes em direção as máquinas que fazem  o que nunca havíamos pensado antes.

Ele tem corações que acreditam na sua grandeza e esse credo faz com que ele sobreviva a tantos impulsos, caminhadas, braçadas, gritarias, gargalhadas.

Por fim, pulmões que respiram um ar cheio de misturas, e pessoas misturadas que respiram o mesmo ar.

Ana de Lourdes Teixeira – Junho, 2009

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11 comentários sobre “O PEQUENO BRISTOL * Bristol the little

  1. Parabéns Ana.
    Estou na Educação do Município há Muuuuuito tempo.E faço questão de acompanhar as “façanhas” dos meus três CEUS (MENINOS, HELIOPOLIS, BRISTOL).
    Fico muito feliz em saber que o Bristol está sob os olhares de gente como vc.Muito carinho para a Educação de São Paulo.

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  2. Você consegue abstrair o melhor deste C.E.U. … esta estrutura de concreto tão fria, mas, no convívio de pessoas tão especiais como você conseguimos nos sentir tão aquecidos, acolhidos, humanos, não mais um, mas únicos. Parabéns pelo que você é e representa.

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